A radioterapia é um dos pilares mais importantes da medicina no tratamento contra o câncer, ajudando milhares de pessoas no mundo todo a enfrentarem a doença. Através do uso de radiação cuidadosamente direcionada, essa técnica tem como objetivo destruir células tumorais ou impedir o crescimento delas, preservando ao máximo os tecidos saudáveis ao redor. Seja como tratamento isolado ou combinado com outros, como a quimioterapia e a cirurgia, a radioterapia desempenha um papel fundamental no combate a diferentes tipos de câncer com o intuito de promover esperança e qualidade de vida para os pacientes.
Entretanto, o cenário no Brasil não é dos melhores. Segundo dados da Demografia Médica do Brasil, de 2023, existem apenas 1.014 médicos especialistas em radioterapia. Com poucos profissionais de radiologia na área, o país não consegue atender a alta demanda da população, visto que uma média de 73 mil pacientes não tem acesso a radioterapia pelo Sistema Único de Saúde (SUS) a cada ano. De 2008 a 2022, a soma chega a 1,1 milhão, o que pode ter sido causa direta de mais de 110 mil mortes, conforme a Sociedade Brasileira de Radioterapia (SBRT) (Fonte: Folha de São Paulo)
A tendência é que o contexto não melhore muito nos próximos anos, pois são esperados 704 mil casos novos de câncer no Brasil para cada ano do triênio 2023-2025, com destaque para as regiões Sul e Sudeste, que concentram cerca de 70% da incidência. O tumor maligno mais incidente no Brasil é o de pele não melanoma (31,3% do total de casos), seguido pelos de mama feminina (10,5%), próstata (10,2%), cólon e reto (6,5%), pulmão (4,6%) e estômago (3,1%) (Fonte: Governo Federal).
Com todas essas informações, vamos conhecer mais pontos sobre a radioterapia, suas principais aplicações e os benefícios que ela pode trazer nos tratamentos:
O que é radioterapia?
Segundo a Sociedade Brasileira de Radioterapia (SBRT), a radioterapia é um dos tratamentos mais eficazes e amplamente utilizados contra o câncer. Ela utiliza radiação ionizante (processo que altera a estrutura química de átomos e moléculas) para destruir as células cancerosas ou impedir que elas se multipliquem. A radioterapia usa equipamentos de alta tecnologia que direcionam essa radiação com precisão ao tumor, minimizando o impacto sobre os tecidos saudáveis ao redor.
A radioterapia atua ao atacar o DNA das células cancerosas. Quando o DNA dessas células é danificado pela radiação, elas perdem a capacidade de se dividir e crescer, resultando em sua morte. As células cancerosas tendem a ser mais sensíveis à radiação do que as células normais e com menor capacidade de se regenerar, por isso o tratamento é eficaz atacando majoritariamente o tumor.
Quantos tipos de radioterapia existem?
O Instituto Nacional do Câncer (INCA) explica que a radioterapia pode ser feita de duas formas, de acordo com a localização do tumor. Vamos ver quais são:
Radioterapia externa ou teleterapia
Neste método, a radiação é emitida por um aparelho, chamado de acelerador linear, que fica afastado do paciente, direcionado ao local a ser tratado, com o paciente deitado. As aplicações são, geralmente, diárias.
Braquiterapia
A fonte de radiação é colocada dentro ou perto do tumor, emitindo radiação diretamente para a área cancerosa. Isso permite que altas doses de radiação sejam entregues diretamente ao tumor com menos impacto sobre os tecidos vizinhos. Esse tratamento é feito no ambulatório (podendo necessitar de anestesia), geralmente uma vez por semana, durante três semanas. A braquiterapia pode ser usada em vários tipos de câncer, como os ginecológicos, de próstata e de mama, de pele e até ocular.
Como é feito o tratamento com radioterapia?
O tratamento via radioterapia externa é feito com auxílio do acelerador linear, funcionando como uma “arma precisa” que pode disparar um tipo especial de radiação, semelhante à usada nos exames de raio-x. Os raios do acelerador linear são mais potentes e focados (Fonte: SBRT)
O papel da máquina que citamos anteriormente é atingir o local onde está o tumor. Esses raios têm a capacidade de danificar as células cancerosas, impedindo que elas continuem crescendo e se espalhando. A vantagem do acelerador linear é justamente a sua precisão, isso com o objetivo de reduzir os danos às células saudáveis ao redor, ponto importante para minimizar os efeitos colaterais e proteger o restante do corpo.
O tratamento com radioterapia é feito em várias sessões e o procedimento, em si, é rápido, durando apenas alguns minutos. Não é doloroso, e a pessoa não fica radioativa após o tratamento, ou seja, pode estar em interações sociais logo após o procedimento. No entanto, é comum sentir algum cansaço ou irritação na pele na área tratada após várias sessões.
Quais as modalidades?
A radioterapia pode ser usada de várias formas, dependendo do objetivo e/ou quadro de saúde do paciente. O A.C.Camargo Cancer Center lista as principais modalidades de aplicação da radioterapia:
- Neoadjuvante: a principal aplicação é diminuir o volume do tumor, com objetivo de facilitar a remoção do mesmo em cirurgia, pós radioterapia. Esse processo possibilita maior preservação do local afetado, além de contribuir para uma cirurgia menos invasiva;
- Adjuvante: quando a radioterapia é associada à quimioterapia ou à cirurgia. Geralmente é utilizada após algum processo anterior para reduzir o risco de o câncer voltar;
- Curativa ou Radical: é quando a radioterapia se torna a principal arma no combate ao câncer, podendo ser associada à quimioterapia. Também é usada em casos em que o processo cirúrgico seja muito arriscado para o paciente;
- Paliativa: usada para melhorar a qualidade de vida do paciente, propiciando alívio de dores, redução de sangramento ou de outros sintomas.
Quais os benefícios da radioterapia?
A maioria dos pacientes com câncer é tratada com radiações e o resultado costuma ser muito positivo. O tumor pode desaparecer e a doença ficar controlada, ou, até mesmo, curada. Quando não é possível remover todo o câncer, a radioterapia pode contribuir para a melhoria da qualidade de vida, isso porque as sessões diminuem o tamanho do tumor, o que alivia a pressão, reduz hemorragias, dores e outros sintomas, proporcionando alívio aos pacientes.
Há também outros benefícios como:
- Precisão: as técnicas modernas permitem direcionar a radiação com alto foco no tumor, preservando ao máximo os tecidos saudáveis;
- Versatilidade: pode ser usada sozinha ou em combinação com outros tratamentos, como cirurgia e quimioterapia;
- Eficiência: pois é usada para tratar tanto tumores localizados quanto para controlar o crescimento em cânceres mais avançados.
Possui efeitos colaterais?
Como muitos procedimentos médicos, a radioterapia não está livre de possíveis efeitos colaterais. Por isso, é importante que o médico especialista deixe o paciente ciente das implicações que podem vir a ocorrer durante o tratamento, sempre mantendo uma comunicação aberta e transparente. Os efeitos mais comuns incluem:
- Sensação de fadiga (cansaço);
- Irritação da pele;
- Queda de cabelo ou pelos na área tratada;
- Desconforto em órgãos próximos ao local da radiação.
O SBRT explica que esses efeitos geralmente desaparecem após o término do tratamento, e que as equipes médicas estão sempre disponíveis para auxiliar o paciente.
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